Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo!
Ao longo do tempo, ocorreram no Brasil diversos movimentos populacionais internos, uns mais, outros menos volumosos. No caso do Nordeste, historicamente área de repulsão populacional, a perda é provocada por diversos fatores, entre os quais pudemos destacar a dificuldade das atividades econômicas em absorver ou manter as populações locais.
Em relação às áreas rurais, as causas são, geralmente: a estagnação das mesmas, o esgotamento dos solos, falta de escolas e assistência médico social, a mecanização agrícola, os fenômenos climáticos, a concentração das terras em mãos de poucas pessoas e as grandes secas nordestinas.
O Estatuto do Trabalhador Rural (Lei no. 4.914, de 2 de março de 1963) pode ser entendido como um marco na legislação trabalhista para o meio rural, como tembém, provocou intensa “disparada”*(Geraldo Vandré e Théo de Barros,na voz de Marinês em 1966), do povo nordestino.Durante o governo de João Goulart, muitos proprietários de terras, não querendo ou não podendo assumir os encargos trabalhistas (salário mínimo, férias, 13º salário, etc.), acabaram dispensando os empregados que, atordoados, "debandaram" para o Sudeste/Norte.
Embora já existisse há muito tempo; o êxodo rural (deslocamento de indivíduos das zonas rurais para as zonas urbanas) ganhou intensidade no Brasil a partir da década de 1940, devido ao "surto" industrial ocorrido no Sudeste (região típica de atração populacional).
No poema canção “A Triste partida”, da década de 50, Patativa do Assaré descreve com profundo conhecimento a saga "camicase" do caboclo roceiro, que abandona seu torrão em busca de melhores condições de vida nas terras do sul.
“...eu vendo o meu burro, meu jegue e o cavalo Nós Vamo a Sum Paulo, viver ou morrer. Ai, ai, ai, ai”
Aproveitando milho debulhado, destacarmos o final profético de vidas secas, de Graciliano Ramos:
“E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos. ”
Em “O Retirante “de 1952 composição de Ubirajara dos Santos e Luiz Viera, o sertanejo é comparado a ninhal de arribaçã (ave migratória) que, obrigado a se retirar para não morrer de sede retorna logo em seguida no primeiro sinal de invernada.
No LP, Marinês e sua gente, intitulado o Nordeste e seu ritmo, o baião “sacrifício” de Antônio de barros e Silveira Júnior narra a trajetória do retirante que depois de muita labuta consegue transportar a família para a cidade grande.
“Mandei buscar a famia, gastei dinheiro sem pudê, Trabaiador hoje em dia, muito mais ganha pra comê, Sacrificio danado, fiz pra viver a vida em paz, Depois de tanto trabaio, a famia que voltar pra trás.”
Vale salientar que o movimento de migração do povo nordestino acontece desde o século XVI, quando do deslocamento dos nativos do litoral para o sertão.
Em meados do século XVIII, atraídos pelo ciclo da mineração, nordestinos debandam para a região de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Ribada semelhante aconteceu no período de 1860 a 1912, a extração da borracha levou sertanejos para a Amazônia.
Jota Fonseca gravou pela Gravadora Cantagalo em 33 RPM “Deixei o meu Cariri” de B. Lobo e Jaci Silva, com direção artística de Pedro Sertanejo. O baião expunha a realidade vivida pelo caboclo e a disposição em deixar seu torrão no primeiro pau de arara.
Na música “Porque deixei meu sertão” de João do Vale e Eraldo Monteiro, gravado no long play Rua do namoro, trio Mossoró de 1968; Oseas Lopes canta a tese que todo sertanejo possui dentro de si a ilusão de conhecer a metrópole, ganhar dinheiro e retornar à terra natal.
De fato, grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e outras, devido ao seu desenvolvimento e prosperidade,
acabam exercendo uma forte atração sobre as áreas mais pobres ou menos favorecidas, o que explica o êxodo rural.
No clássico “Pau de Arara” de Guio de Morais e Luiz Gonzaga (1952) a simbologia musical em carregar dentro do matulão: o triângulo, o conguês e o zabumba (o xote, o maracatu e o baião respectivamente) traduzem também a coragem, o sonho e a esperança do Retirante sertanejo em busca de uma vida melhor. Nesse sentido, deixar o pé de serra significa regar a muda plantada no intuito de preservar com vida suas raízes.
É certo que o abandono do campo em favor das cidades trouxe consequências; a perda da população ativa foi uma delas, pois, grande parte dos migrantes é composta de adultos que estavam trabalhando o campo. Por outro lado, verificou-se um rápido aumento da população na zona urbana, maior oferta de mão de obra nas cidades e o acúmulo de pessoas no setor terciário; esse, não cresce, incha.
Os estados que mais receberam nordestinos no período de 1940 a 1970 foram São Paulo (39%) e Rio de Janeiro (22% do total). Os estados nordestinos que mais perderam pessoas foram: Bahia, Pernambuco e Ceará.
Não se pode esquecer que a expansão cafeeira, o crescimento da pecuária de corte no Centro-oeste, a agricultura do oeste paranaense, catarinense e a construção de Brasília, especialmente de 1956 a 1960, foram outros fatores migratórios. Esses movimentos internos vieram contribuir para o povoamento e miscigenação da população nas diversas regiões do país.
A prosa “O Último Pau de Arara” (Venâncio-Corumba-J. Guimarães) gravada em 1958 por Ary Lobo, descreve o verdadeiro sentimento do caboclo apegado à sua terra:
...só deixo o meu Cariri, no último pau de arara!
"Súplica Cearence" de Gordurinha e Nelinho em seu trecho final destaca:
"desculpe, eu pedia a toda hora, pra chegar o inverno, desculpe eu pedi para acabar com o inferno que sempre queimou o meu Ceará"
Mas isso é assunto para outra lapada de pinga!
Obs: O Sudeste brasileiro foi durante muitos anos a região brasileira que mais recebeu migrantes, no entanto, nas últimas décadas esse cenário mudou, atualmente a região Centro-Oeste é o principal destino para os fluxos migratórios.
Para sempre seja Deus Louvado.
1) (ESPM) O mapa a seguir demonstra:
a) A marcha da industrialização brasileira.
b) Fluxo de migrações no século XX.
c) Extrativismo mineral.
d) As frentes pioneiras da agricultura brasileira.
e) A nova expansão industrial do século XX.
Resposta: B
Nenhum comentário:
Postar um comentário